domingo, 14 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.3 - A GRÉCIA - ENSINAMENTOS ESOTÉRICOS

7.3
A GRÉCIA
ENSINAMENTOS ESOTÉRICOS

É primeiramente nas Fábulas, nas Alegorias, que nós procuramos a idéia iniciática, o ensinamento esotérico da Grécia.
Vamos nos limitar à citação de Édipo, dentre outras, como uma das mais ricas em revelações misteriosas.
Édipo, o vencedor da Esfinge, é filho de Laios, e de Jocasta, soberanos de Tebas, que teriam vivido no século XV A . C.
O seu nascimento foi assinalado pelo Oráculo, que lhe tinha anunciado as piores infelicidades.
O menino devia matar o seu pai, desposar sua mãe e, depois de ter passado alguns anos miseráveis, morrer no bosque das Fúrias. Laios pensou que não valeria a pena que tal filho vivesse; confiou-o a um de seus pastores para que lhe desse a morte. O pastor não teve coragem de executar esta ordem, mas pendurou o menino pelos pés no monte Citheron e o abandonou, cuidando que, com tanto frio que reinava, a fome e os animais ferozes cumprissem o assassínio que lhe repugnava.
Nada disso sucedeu. Descoberto pelos pastores e caçadores, Édipo, que devia seu nome (pés inchados) ao estado em que se achava, foi conduzido ao rei de Corinto: Polibio. Este, velho e sem filhos, adotou-o com o consentimento de sua esposa.
Chegado à adolescência, o jovem conheceu o Oráculo e, com medo de matar Polibio, do qual acreditava ser filho, fugiu ao acaso pelos caminhos.
A um dado momento, encontrou-se com um carro rodeado de uma fraca escolta. Questionando com os passageiros, encheu-se de fúria e agrediu um velho, matando-o . Era Laio.
Uma parte do Oráculo já estava assim realizada; ele continua o seu caminho, e, tendo sabido que a cidade de Tebas estava desolada pela Esfinge, voltou para esta cidade, triunfou do animal alado e, segundo as condições que tinham sido fixadas, desposou a mulher de Laio, a rainha Jocasta, sua mãe, da qual teve muitos filhos.
A Esfinge era um animal monstruoso que estava às portas da cidade. De um rochedo, apresentava aos transeuntes um enigma, sempre o mesmo. Aqueles que não podiam explica-lo caiam em seu poder. Estraçalhava-os com suas garras e devorava-os.
Eis o enigma: Qual é o animal que caminha de quatro pés ao amanhecer, de dois ao meio dia e de três ao pôr do sol?
Édipo, tendo percebido o mistério respondeu: “é o homem”.
E a Esfinge, caindo em poder do vencedor, foi morta por ele.
O animal assim descrito é, o homem. Menino, na aurora da vida, ele move sobre as mãos e os pés. Ao meio dia de sua carreira, em pleno meio dia de sua força, ele caminha com seus dois pés. Mas, à tarde, quando declina o ardor de sua força, ele caminha com três pés, servindo-se de seu bastão.
E Court de Gébelin sugere, então, uma interpretação da fábula:
“A Esfinge é a ciência envolvida em alegorias; é um monstro; porque esta ciência é um acúmulo de prodígios de toda a espécie; ela é representada por um rosto, mãos e voz de mulher, para notar seus atrativos e sua graça; suas asas denotam o vôo elevado das Ciências e que são feitas para se comunicar rapidamente a todos os espíritos. As suas garras são a profundeza e a força irresistível e penetrante de seus argumentos e de seus axiomas”.
Só explica estes enigmas quem tem os pés inchados e doentes: porque não é com pressa que se decifram os enigmas da Esfinge.
“Enfim, duas condições estão ligadas a estas alegorias: ser despedaçado, se não puder explicar, ou ser rei se os decifrar. Efetivamente, aquele que não as pode desenvolver tem o espírito continuamente deprimido e aquele que as decifra é rei no sentido alegórico e filosófico, isto é, um Sábio, como se exprimem os estóicos; o Sábio é rei; reina sobre si mesmo e sobre a natureza que ele conhece”.
A ciência aqui é a ciência secreta, bem superior a toda a ciência. A ciência ordinária dá conhecimentos que não podem servir de base ao Conhecimento, fim de nossos esforços.
Uma aproximação impõe-se entre a Esfinge de Gizé e a Esfinge morta por Édipo. É um simbolismo idêntico sob duas formas diferentes.
No Egito, a idéia religiosa foi posta sob a guarda do deserto.
O gênio alado da Grécia confiou o seu pensamento ao tesouro vivo e movimentado das fábulas.
No Egito, vimos a sua quádrupla natureza nos dar a palavra quádrupla do eterno enigma.
A cabeça de mulher, cujo olhar é vago e penetrante, diz: SABER; os flancos do touro forte dizem: QUERER; as garras de leão mandam OUSAR, e as asas fechadas, apenas visíveis, ordenam CALAR.
É isto que devia compreender o neófito, e não é senão depois de lhe ter explicado que ele tinha o direito de penetrar, pelo peito do monstro, nos corredores subterrâneos e nas salas iniciáticas onde tinham lugar as provas que faziam atingir os Mistérios.
O fim supremo é a Ciência, o conhecimento do mundo, do homem, de Deus, a união à Divindade, o perfeito ideal do Sábio.
Na Grécia, o monstro alado é quase semelhante, mas foi confiado à lira dos poetas.
As dificuldades que encontravam Édipo e o iniciado do Egito, e que todos deveriam suplantar, eram as mesmas.
Alguém devia adivinhar a Esfinge, outro devia explicar a Esfinge, tarefa bem árdua por todos os modos.
Se o neófito grego não dava uma resposta satisfatória à questão exposta, caía sob as garras do monstro, ao passo que o postulante aos mistérios egípcios, para quem a Esfinge de pedra era letra morta, repelia ao limiar das experiências, caía em profunda e irremediável dor! A iniciação era-lhe vedada.
Mas Édipo, como o,outro iniciado, respondeu vitoriosamente. O egípcio foi admitido aos Mistérios da Deusa Isis. Ele foi iniciado; por seu labor e seu estudo, atingiu aos graus superiores. Édipo é rei, mas suas experiências não foram terminadas. A sua realeza não é senão a imagem daquele que procura a iniciação. A paz real, a verdadeira luz, o infortunado filho de Laio não as achará senão sob a sombra negra do bosque das Fúrias, quando, ao renunciar a todas as alegrias e às glorias do mundo, for votado aos deuses e, morto como o iniciado em um sarcófago, vier a ser objeto de culto e de benção para aqueles que herdaram seu corpo – suas obras – tudo o que fica ao mundo do iniciado digno deste nome.

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