domingo, 28 de setembro de 2008

MAÇONARIA - ORIGENS INICIÁTICAS - 7.4 - A GRÉCIA - HOMERO

MAÇONARIA
ORIGENS INICIÁTICAS

7.4
A GRÉCIA
HOMERO

Há muito que se pergunta se as obras de Homero contêm um ensinamento iniciático e muitos autores antigos decidiram a favor da afirmativa.
Efetivamente, certos textos são bastante prováveis nesta forma de ordem dos fatos.
A magia reina no domínio destes poemas. É por magia que Circe muda em porcos os companheiros de Ulisses, caídos em seu poder, ao passo que Ulisses a dominou, porque a força de vontade do iniciado domina sempre o que vem dos sentidos e do psiquismo inferior.
Ulisses é, além disso, o símbolo perfeito do iniciado. Quando ele deve enfrentar as Sereias, que simbolizam as ciladas deliciosas da Natureza, ciladas mortais sob a aparência agradável, tapa os ouvidos de seus companheiros, agarrando-se ao mastro do navio para não cair na deliciosa cilada.
Os oráculos de Cassandra se relacionam aos fenômenos intuitivos, mas, se devemos crer nos Alexandrinos, Homero contém ensinamentos de uma bondade mística muito mais alta.
Nenhuma obra, a este respeito, é mais característica do que o Antro das Ninfas.
Este antro está situado na ilha de Itaca. É um lugar sagrado que encerra as riquezas do iniciado.
A descrição do antro, tal como Homero nos mostra na XII rapsódia da Odisséia, é bastante para atrair a glosa de Porfírio, cuja tradução devemos a Pierre Quillard:

À entrada do porto cresce uma oliveira de grande copa,
Junto a ela se abre o antro amável e tenebroso,
Consagrado às Ninfas que denominamos Náiades,
Dentro, existem crateras e ânforas
De pedra, onde abelhas constroem suas colméias;
Há também longos trabalhos de pedra nos quais as Ninfas
Tecem panos tintos de púrpura maravilhosa à vista;
Ali também correm fontes inesgotáveis e existem duas entradas:
Uma para o Bóreas, deixa descer os homens;
Outra para o Notos, é para os deuses,
E jamais por ele entrarão os homens; porém, esse é o caminho dos imortais.

Este antro é a imagem mística do destino das almas; é o símbolo, e um detalhe não é sem importância nesta singular alegoria. O antro, dizíamos, é o mundo e tem duas aberturas: uma para os homens e outra para os deuses; os visitantes, de uma natureza tão diferente, jamais erram a porta.
O antro cheio de sombras é doce e fresco, e o murmúrio das fontes torna-o ameno, apesar das suas sombras.
E a explicação de Porfírio começa por certificar que o trecho de Homero não era arbitrário nem fantasista:
“Neste ponto – diz ele – não há uma fábula imaginada ao acaso por simples prazer do espírito e não contém mais a descrição de um lugar, porém, é preciso ver uma alegoria do poeta que colocou misticamente uma oliveira perto do antro”.
A oliveira, árvore de Palas, é uma árvore sagrada entre todas e o lugar desta árvore pacífica, no limiar do antro dos iniciados, bastaria para atrair a atenção, porque não é nas tempestades de cólera nem nos tumultos de ambição que Deus consente em se revelar aos mortos.
O antro, segundo Porfírio, é o símbolo do mundo. É para ele que as almas descem nesta vida material, e é por ele que elas voltam ao mundo superior.
Por que um antro? Antes de tudo, os antros e grutas, devido ao seu aspecto de sala preparada de antemão por uma potência desconhecida, sempre pareceram misteriosos e sagrados.
“Os antigos – diz Porfírio – consagravam os antros e as cavernas ao Mundo considerado em sua universalidade ou em suas partes: tomavam a terra por símbolo da Matéria de que é composto o Mundo; aí se pensava também que era pelo motivo da terra designar a matéria e significava por antros que o Mundo era composto pela matéria”.
É, pois, desprendendo-se da matéria, esclarecendo-a pela luz que lhe é exterior, que vem toda beleza que lhe é acessível, a fazer brotar as formas que ela é suscetível de tomar. E Porfírio faz observar que, mesmo os Persas, para fazerem compreender por um símbolo a descida da alma na matéria e a sua ascensão no mundo da Luz, dão o nome de caverna ao lugar onde se passa a iniciação, a fim de que o iniciado se desprenda inteiramente da matéria e dos encantos que possui o mundo sensível.
“Os antros eram dedicados às Ninfas e sobretudo as Náiades que velam as fontes e tiram o seu nome das águas de onde decorrem”.
As fontes, cuja origem era uma espécie de prodígio para os antigos, era-lhes sagradas.
As Náiades, as Ninfas são as energias personificadas da matéria e este antro, onde as águas correm perpetuamente, “não simbolizam a essência inteligível, mas a substância unida à matéria”.
Tomado pelo simbolismo destas águas que vêm não se sabe de onde para nascer à luz, Porfírio acrescenta que as Náiades “são almas que desejam nascer”.
Quanto às crateras e as ânforas de pedra, são “os símbolos das Ninfas Hidríadas. Porque as ânforas e as crateras de argila são os símbolos de Dionisios”.
As crateras e as ânforas de pedra convêm muito às Ninfas que presidem as águas que brotam das pedras. E quais símbolos seriam mais bem apropriados senão os naturais para as almas que descem para a geração e a produção do corpo? Assim o poeta ousou dizer que, sobre estes meios, as Ninfas:

TECEM PANOS TINTOS DE PÚRPURA MARAVILHOSA À VISTA.

Como pertencentes às Ninfas, os lugares são de pedra, mas desde que a geração dos seres humanos começa a se manifestar, o simbolismo se precisa e eis aqui o que diz Porfírio:
“É nos ossos e em torno deles que se forma a carne: eles são de pedra no corpo dos animais e são comparados à pedra. Porém, os meios são feitos de pedra, e não de outra matéria”.
“E os panos de púrpura não são outros senão a carne unida ao sangue; efetivamente, os tosões de púrpura são impregnados de sangue e a lã é tinta no sangue e a carne vem a ser sangue. E o corpo é a vestimenta da alma e há um espetáculo admirável, quer seja considerada a composição ou a união com a alma”.
Falando das ânforas de pedra, Homero ajunta:

... ONDE AS ABELHAS CONSTRÓEM SUAS COLMÉIAS.

“Os teólogos serviram-se do mel para um grande número de símbolos diversos. Ele purifica e conserva: graças a ele muitas coisas vêm a ser incorruptíveis e as úlceras antigas são curadas por ele; é doce gozar e, em certas cerimônias, come-se o mel porque purifica a língua de todo erro”.
O mel é a nutrição dos deuses e é por isso que deve ser sagrado para os homens.
A própria abelha é sagrada e ela é a imagem de uma alma elevada.
A abelha é um animal instruído pelos deuses e a perfeição dos alvéolos onde ela distila o seu mel tem sempre causado a admiração dos observadores.
O antro das Ninfas tem dois destinos: um – diz Homero – está voltado para Bóreas, e o outro, mais divino, para o Notos e se pode descer por aquele que olha para o Bóreas, mas não se indica se é possível descer por aquele que esta voltado para o Notos, e diz somente que:

JAMAIS POR ELE ENTRARÃO HOMENS; PORÉM ESSE É O CAMINHO DOS IMORTAIS.

O Bóreas servia para a descida das almas. Quanto à região do Notos são reservadas, não aos deuses, mas àqueles que sobem para os deuses.
Por isso, Homero diz, não o caminho dos deuses, mas o caminho dos imortais, isto é, o caminho daqueles que são vitoriosos das experiências, que têm vencido a segunda morte; aqueles não nascerão e não morrerão jamais.
O símbolo da oliveira não é menos freqüente, nem menos admirável.

À ENTRADA DO PORTO CRESCE UMA OLIVEIRA DE GRANDE COPA,
JUNTO A ELA SE ABRE O ANTRO ......................................................................

“Não é por acaso, que esta oliveira surge ali, mas indica também a significação misteriosa do antro. O mundo efetivamente, não é nascido arbitrariamente e por acaso, mas é a obra do pensamento divino e da natureza inteligente; e, diante do antro, a imagem do mundo, está a oliveira, símbolo da sabedoria divina”.
Porfírio fala de uma época em que escritos iniciáticos, para atingir os iniciados, se arriscam de cair em mãos profanas; também escreve para mais leitores do que desejaria. Eis porque se defende de ter posto o que quer que fosse de pessoal na sua explicação que provém de uma tradição esotérica:
“Que não se tomem tais interpretações como forçadas e crendo que elas sejam conjecturas de homens sutis. É preciso notar qual era a sabedoria antiga e, cuidando como Homero e é sua exata consciência de toda a virtude, não negar que, sob a forma de mitos, ele ocultou misteriosamente a imagem das coisas divinas. Não podia efetivamente, deixar de fazer uma ficção completa e que não teve nenhum objeto verdadeiro por origem”.
O sentido secreto assim exposto por Porfírio corresponde ao pensamento de Homero? O fato é verossímil, porém muito difícil de provar.
Certamente, Homero está cheio de alusões místicas e nós encontraremos seus hinos quando tratarmos dos mistérios de Eleusis que tiveram importância tão grande na vida da Grécia.
Seja o que for, parece-nos interessante dar aqui, a título documentário, os trechos essenciais do trabalho de Porfírio, tendentes a demonstrar que Homero foi um grande iniciado e que, sob o agradável véu da ficção, seus poemas admiráveis continham alguns segredos de iniciação helênica.

Site maçônico ( www.pedroneves.recantodasletras.com.br)

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